Quando um roteirista de quadrinhos resolve recriar ou
reformular um herói que já é um mito do universo dos quadrinhos ele precisa ter
muita coragem e ser muito bom!!! Frank Miller é esse cara! Com sua narrativa em
Ano Um e anos mais tarde com Demolidor: O Homem sem Medo, Miller mostra como
uma história conhecida e contada várias vezes pode assumir um caráter
definitivo após passar por suas mãos.
Para mim Frank Miller sempre esteve muito à frente de seu
tempo, meu primeiro contato com seu trabalho foi através dessa HQ, e aos 11
anos (quando li Ano Um pela primeira vez) percebi que estava lendo algo
especial, muito diferente de tudo o que havia lido até o momento (comecei a ler
HQ por volta dos 6 anos) e a partir daí percebi que as HQS poderiam abordar
temas mais complexos e adultos, pois ao lê-la me senti como se assistisse a um
filme policial e não a uma história de mocinho contra bandido.
Em Ano Um, somos apresentados a um Bruce Wayne que definiu
seu propósito na vida logo após o incidente em que segundo ele “sua vida perdeu
o propósito” o assassinato a sangue frio de seus pais, apesar de a partir daí
dedicar toda a sua juventude se preparando para combater o crime, ao retornar
para Gotham ele ainda não sabe como pôr em prática tudo o que aprendeu de
maneira que impactasse os criminosos, ele desejava algo como um símbolo de
justiça para os cidadãos e opressão para os meliantes, então de maneira
brilhante Miller nos mostra como Wayne recorre a uma experiência traumática de
sua infância para encontrar o símbolo que incutirá medo na massa criminosa: o
Manto do Morcego.
Ao mesmo tempo, a história mostra a chegada do então Tenente
James Gordon em Gotham, descontente pela transferência, com uma mulher grávida e
aparentemente sem muitas perspectivas positivas diante do cenário que se
apresenta (um policial honesto no meio de uma corporação de policiais corruptos
e vendidos) Gordon transpira realismo e humanidade jamais visto em um
personagem de HQ. Miller trabalha de maneira magnífica com o futuro Comissário,
mostrando seus erros e acertos como qualquer ser humano: ele trai a esposa, sua
consciência o tortura, ele questiona sua missão de caçar e prender o Cavaleiros
das Trevas...embora não seja o protagonista, nessa história ele praticamente
divide o protagonismo com um Wayne ainda tentando definir sua maneira de
combater o crime. Seja o leitor iniciante no Universo do Morcego ou já um
veterano, ao ler essa história com certeza aumentará sua admiração pelo velho
Gordon, e nos faz pensar também que ao longo dos anos o personagem poderia ser
melhor trabalhado e aproveitado nas histórias.
Outro ponto que gostei muito no roteiro de Miller, foi a
decisão de não escalar nenhum vilão famoso para estrelar a história, nesse
começo os principais inimigos do Morcego são: sua própria consciência e o
Estado corrupto e mafiosos que sustentam esse Estado. Batman é ainda um
personagem humano e a Lenda aos poucos vai tomando seus contornos até se tornar
o vigilante mais famoso do mundo dos quadrinhos. Entretanto, antagonistas
importantes no futuro são mostrados de forma brilhante, como Selina Kyle e o
promotor público Harvey Dent, que neste início é um grande aliado do Batman, é
muito legal ver como eles tinham a mesma visão e como essa parceria poderia se
tornar interessante.
Esta é sem dúvida, uma das melhores histórias do Batman e do
universo dos Quadrinhos, uma aula de como se faz histórias que se tornam tão
grandes como o próprio Herói, conta com um time de gênios – Frank Miller, David
Mazzuchelli, e que a cada leitura se torna mais prazerosa. Um prazer que só
quem sabe encarar uma HQ como arte é capaz de sentir.
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